Publicado originalmente no Blog Acesso – o blog da democratização cultural em 28 de novembro de 2014.
No primeiro semestre de 2014, o Brasil foi o país homenageado na mais importante feira do livro no setor infantil e juvenil, a Feira do Livro de Bolonha. Durante o evento, foram anunciados os ganhadores do Prêmio Hans Christian Andersen – o maior do mundo no âmbito do livro infantil e juvenil – e, pela primeira vez, um brasileiro, o brasiliense Roger Mello, recebeu a premiação na categoria ilustração.
Mas não somente 2014 tem sido um ano de projeção do livro brasileiro. O país foi também homenageado na Feira do Livro de Frankfurt de 2013 e, conforme lembra a presidente da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura para Crianças e Jovens – AELIJ, Sandra Pina, o “circuito de homenagens” ainda inclui o Salão do Livro de Paris de 2015, entre outros eventos nos próximos anos. “Mais importante do que as homenagens em si, é perceber que o autor brasileiro – escritor e ilustrador – tem sido cada vez mais respeitado no cenário internacional, bem como a produção editorial nacional também está cada vez mais em pé de igualdade, falando em termos técnicos, de produção gráfica”, avalia.
Elizabeth Serra, secretária geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ – organização responsável por indicar os concorrentes brasileiros ao Andersen –, ao comentar a atual projeção da literatura infantil e juvenil brasileira, faz questão de lembrar que essa produção tem uma história. “Temos um grande marco nos anos 1920, a obra de Monteiro Lobato, e no final dos anos 1960, início dos 1970, começam a surgir esses grandes nomes que hoje são ícones da literatura infantil e juvenil: Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Bartolomeu Campos de Queirós, Maria Colasanti, Ângela Lago, Lygia Bojunga, Joel Rufino dos Santos e tantos outros. É um grupo que abriu um grande espaço para literatura infantil e juvenil”, diz.
Lygia Bojunga, em 1982, e Ana Maria Machado, em 2000, foram as primeiras latino-americanas a receber o Prêmio Hans Christian Andersen, na categoria escritor, abrindo caminho para uma maior projeção da literatura infantil e juvenil brasileira no exterior. “O Brasil conta com produção editorial com reconhecimento internacional já desde os anos 1980”, observa Serra.
Já para a presidente da AEILIJ, o Brasil iniciou um movimento de profissionalização na literatura infantil e juvenil que está ganhando cada vez mais respeito no cenário internacional. “Além disso – e talvez por causa disso –, os editores brasileiros estão se dedicando mais à exportação do produto nacional, impulsionados também por incentivos federais para a tradução e divulgação da literatura brasileira no exterior”, comenta.
Em termos de qualidade de criação e de diversidade, Pina considera que o Brasil jamais deveu nada a nenhum outro mercado editorial. “Nossa produção, na verdade, é um belo reflexo da diversidade de nosso país. Amadurecemos muito tanto em texto quanto em ilustração nos últimos anos. O que está acontecendo agora é um avanço de qualidade técnica que nos permite encarar o mercado internacional mais em pé de igualdade, diz.
Serra chama a atenção também para a evolução na qualidade da tradução, que cresceu muito, segundo ela, ao longo das últimas duas décadas, período em que os mercados se ampliaram e tornaram-se mais sofisticados, efeito da globalização. “Há muita tradução para o espanhol, para o alemão e até para o japonês e o mandarim, mas o mercado de língua inglesa ainda é o mais difícil, não só para o livro infantil”, afirma.
“Com certeza, internacionalmente, a literatura para crianças e jovens já é muito reconhecida. Na América Latina, os nossos autores são muito conhecidos e vendidos, tem um peso muito grande. Por isso, a fundação considera que realmente temos no Brasil um mercado editorial com autores, editores e ilustradores de muito boa qualidade. Sem dúvida, a originalidade de nossos autores é muito grande e reconhecida”, avalia a secretária geral da FNLIJ.
Incentivos do poder público
Para Elizabeth Serra, a compra de livros infantis e juvenis para as escolas da rede pública teve, em especial ao longo dos últimos 15 anos, um importante papel. Essa política, para a especialista, ajudou a fomentar a valorização da literatura infantil e juvenil pelos professores e pelas famílias na educação fundamental. “O nosso entendimento é que esses livros tem que chegar a todas as escolas”, afirma.
Sandra Pina concorda e, em sua opinião, as políticas públicas de fomento ao livro infantil e juvenil vêm crescendo. “Nosso leitor já não é o mesmo de 15 anos atrás. Percebemos isso nos momentos de interação nas feiras e eventos literários. As compras de livros efetuadas pelo governo – em nível federal, estadual e municipal –, o apoio à criação de editais, as discussões em torno de projetos de lei de direito autoral, de valorização do livro e da leitura literária e de valorização das bibliotecas públicas vêm crescendo e se tornando cada vez mais democratizados”, avalia.
Para a presidente da AEILIJ, esse incentivo traz novos horizontes, abre novas portas, movimenta a categoria e a economia do livro. “E nos faz ter certeza de que muito precisamos trabalhar e caminhar para um mercado mais ajustado, mais equilibrado e maduro. Mas, sem dúvida, a perspectiva é interessante”, conclui.
Bernardo Vianna / Blog Acesso