Um panorama sobre o futuro do jornalismo a partir de cinco vídeos disponíveis na web. O que muda no jornalismo com o surgimento de novos meios, novas ferramentas, novos modos de interação com o público e novos modelos de negócio?
O jornalismo está mudando, já não restam dúvidas. Mas mudando de que forma? A causa das mudanças é o desenvolvimento da tecnologia da comunicação, a emergência de novas mídias, imediatas, integradas em rede, ainda pouco mapeadas, acessíveis àqueles que a indústria acostumou-se a chamar de audiência, mas que agora fazem parte do jogo produzindo, editando e divulgando conteúdo. De que forma as empresas de notícias estão se adaptando para atravessar a crise do modo de publicação e do modelo de negócios? Tentei não necessariamente responder, mas comentar tais questionamentos reunindo os cinco vídeos a seguir.
1. O novo meio
O novo meio é a tela. Isso significa o fim do papel? Ainda não. Segundo o The Economist, embora o número de jornais impressos diários tenha diminuido ao longo dos últimos anos nos países industrializados, nos países em desenvolvimento o mesmo número está crescendo: 6,1% na África do Sul, 10,4% na China, 20,7% no Brasil e 39,7% na Índia (crescimento da circulação média entre 2005 e 2009).
O vídeo abaixo foi criado por Phillip Mendonça-Vieira, que observou que a maioria das publicações on-line não mantém um arquivo do layout de suas páginas iniciais. As primeiras páginas dos jornais impressos são fontes importantes para historiadores pois mostram os fatos que os jornalistas julgaram mais relevantes em determinado dia, e isso se perde com as publicações digitais. Composto por 12 mil visualizações da página inicial do portal do New York Times – o site jornalístico mais popular da web -, o vídeo mostra os principais acontecimentos do mundo, segundo o jornal norte-americano, entre setembro de 2010 e julho de 2011.
(Atenção aos eventos: resgate dos mineiros chilenos em 0:39, primavera árabe em 3:38 e tsunami no Japão em 4:54)
2. O modelo de negócio
Aconteceu quando surgiram os canais de TV pagos com notícias 24h e acontece agora novamente com a internet: a debandada de anunciantes para a nova mídia em que o público estiver focando sua atenção no momento. Em um modelo de negócios como o das empresas de jornalismo dos EUA (que em geral é reproduzido no Brasil), em que cerca de 80% da renda tem origem na venda de espaços publicitários, esse movimento causa inquietação. Por esse motivo tornou-se tão importante para os jornais criar novos modelos que façam com que seus portais na web gerem renda (e eu não estou nem falando de lucro, trata-se de renda para manter os jornais funcionando).
A bola da vez é o paywall do NYT. Ao navegar pelo website do jornal norte-americano, o usuário pode ler até 20 artigos por mês antes de ser convidado a pagar para ter acesso a mais conteúdo. Tendo atingido a marca de 244 mil pagantes em três meses, a experiência coloca em dúvida a ideia de que o público não estaria disposto a pagar por conteúdo digital.
David Carr, repórter do NYT e um dos protagonistas do documentário Page one: Inside the New York Times, fala sobre a situação financeira do jornal em que trabalha durante a entrevista no vídeo abaixo (antes de passar para a análise do escândalo das escutas telefônicas do News of the World). Quando o entrevistador, referindo-se ao paywall, pergunta “So the grey lady has turned into the painted harlot?” (“Então a dama cinza – apelido do NYT por conta de sua tradição de publicar mais texto do que imagens – se transformou em prostituta pintada?”), Carr devolve “That’s part of the brand repositioning” (“É parte do reposicionamento da marca“).
The Colbert Report
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3. O meio de produção
Então como integrar de forma simples e barata as versões web e impressa de uma publicação? A resposta encontrada por William P. Davis foi desenvolver, no Bangor Daily News, um sistema editorial baseado em software livre, utilizando o WordPress como plataforma de publicação. O mais interessante: o WordPress foi totalmente integrado ao InDesign, o que significa que o que é publicado on-line segue diretamente para a montagem do jornal impresso, ou seja, o jornal tem um só sistema de gerenciamento de conteúdo (um software gratuito) tanto para a versão on-line quanto para a versão impressa.
Em suma, o processo editorial do jornal segue as seguintes etapas: 1. Os artigos são escritos utilizando o Google Docs, onde passam pelo processo de edição utilizando as etiquetas e comentários do sistema; 2. Os documentos com os artigos prontos para publicação são então enviados para o WordPress via XML com apenas um click (por meio de um plugin desenvolvido pela equipe de Davis); 3. No WordPress, os editores publicam o artigo na web e preparam os títulos e subtítulos para a versão impressa; 4. Os artigos então seguem para o InDesign via tagged text para a preparação do jornal para impressão.
4. Produção de conteúdo de muitos para muitos
As pessoas, antes chamadas de “a audiência”, agora fazem parte da produção de conteúdo graças às mídias sociais. Cabe aqui, antes de mais nada, uma observação sobre a diferença entre redes e mídias sociais: vamos chamar de rede social o ambiente em que as pessoas reúnem seus contatos e trocam informações com eles, as redes são, segundo o Mídia Buzz, “formas de representação dos relacionamentos afetivos ou profissionais dos seres entre si, em forma de rede ou comunidade. (…) Mídia social é o termo usado para definir a interação interpessoal no meio eletrônico, e trata-se da produção de conteúdo de muitos para muitos. É importante deixar claro que as redes sociais são apenas parte das mídias sociais“.
A “produção de conteúdo de muitos para muitos” pode ser – e cada vez mais está sendo – utilizada pelos jornais para criar conteúdo único, alimentado pela comunidade de usuários da Internet por meio das APIs de diversas ferramentas de web 2.0. Por exemplo, quando o escândalo dos grampos telefônicos veio a tona no Reino Unido, o Guardian criou uma página alimentada pelos tweets sobre o assunto, gerando uma visualização de quais foram os principais eventos e de como a comunidade reagiu a eles. É o que mostra o vídeo abaixo.
5. Do que não podemos nos esquecer
Por fim, o vídeo a seguir traz uma reflexão de Brian Storm, fundador da MidiaStorm, um estúdio de produção de conteúdo multimídia especializado em contar histórias de conteúdo humano com profundidade, o oposto de uma tendência muito comum na web que tem como prática a produção em massa de conteúdo superficial. Afinal, visualizações de página são a melhor unidade de medida para se verificar o sucesso de um produto jornalístico? É possível medir a responsabilidade cívica original do jornalismo?
Metrics for Newspapers from Håvard Ferstad on Vimeo.
Um pensamento em “O futuro do jornalismo em cinco vídeos”