Acolhimento em Rede

Rede reúne profissionais dos serviços de acolhimento institucional

* Publicado originalmente em VIA blog – Direitos da Criança e do Adolescentes em 4 de novembro de 2014.

O AcolhimentoemRede é um grupo colaborativo que reúne mais de 1300 pessoas que atuam direta ou indiretamente em instituições de acolhimento de crianças e adolescentes. A rede, que teve início em um grupo de discussões na internet, é composta por profissionais de vários estados do Brasil e das mais diversas formações e funções no sistema de proteção à criança e ao adolescente, incluindo assistentes sociais, psicólogos, conselheiros tutelares, educadores, advogados, estudantes e acadêmicos.

Segundo Mônica Vidiz, técnica do Instituto Fazendo História e colaboradora do AcolhimentoemRede, a partir de uma pesquisa realizada em 2010 sobre o desejo de se ter um espaço em rede para aprimorar e compartilhar as questões pertinentes ao acolhimento, a entidade verificou grande interesse dos profissionais por trabalhar em colaboração. “Mais do que interessadas, essas pessoas estavam dispostas a dar o pontapé inicial para pôr em prática a iniciativa. E foi assim que, em julho de 2010, um grupo de quase 100 pessoas deu início ao AcolhimentoemRede, através de um grupo de e-mails”, conta.

Este ano, o grupo lançou seu portal, o acolhimentoemrede.org.br, para sistematizar e disponibilizar, para um número maior de pessoas e de forma mais organizada, o conteúdo debatido na rede. Para Mariana de Salles Oliveira, coordenadora da rede HumanizaSUS, uma das dimensões a partir da qual se pode compreender a importância do debate coletivo diz respeito à formação e valorização do próprio profissional. “Trabalhamos na alta complexidade, com um público desafiador, baixa remuneração e com formação e supervisão geralmente insuficientes. O apoio mútuo e os espaços de reflexão dentro deste contexto tornam-se muitas vezes o caminho das pedras para realizar um bom trabalho”, avalia.

Os temas debatidos vão desde as estratégias implementadas para o atendimento de um caso específico até a atuação a partir de diretrizes nacionais e leis que regem o trabalho. “A diversidade é infinita, mas, na maioria das vezes, as discussões partem de perguntas lançadas por algum dos membros. Como lidar com um adolescente que se recusa a frequentar a escola? Como os serviços se organizam para garantir a realização de reuniões de equipe se os educadores trabalham em turnos, em dias alternados? Qual a função do psicólogo na equipe de um SAICA [serviço de acolhimento institucional de crianças e adolescentes]? Devo levar as crianças para uma visita à mãe que está detida? Qual a diferença entre apadrinhamento afetivo e acolhimento familiar? Todos colaboram para a construção de respostas e novas perguntas”, explica Vidiz.

Essas discussões são posteriormente publicadas no portal da rede na sessão #RolounaRede. Além disso, o grupo costuma compartilhar materiais de referência, informações sobre oportunidades de trabalho e divulgar eventos, o que também é disponibilizado no portal do AcolhimentoemRede. “O exercício de curadoria de assuntos importantes e relevantes para essa comunidade está entregue a ela mesma. Dessa forma, a comunidade acaba por decidir o que lhe diz respeito e onde e como quer investir. Isso entrega aos participantes um amplo espaço de pertinência e de conhecimento sobre seus interesses”.

Outra dimensão da organização da rede lembrada por Oliveira é o fortalecimento da identidade dos serviços de acolhimento e de seus profissionais. “As políticas de proteção à infância passaram por profundas transformações ao longo das últimas décadas; muitas delas estão em andamento e há outras ainda incipientes. A reunião e a sintonia entre os membros da rede tem grande potencial de levar adiante os avanços para este campo, através da força do coletivo”, explica.

Para a especialista, uma das características fundamentais do AcolhimentoemRede é que cada um representa a si mesmo na rede. “É uma rede de pessoas, não de instituições. Cada um pode escrever o que bem entender, e também responderá por suas palavras. Cria-se assim um campo fértil para uma apropriação e um exercício político que empodera e também responsabiliza cada um pelo seu discurso. Na diversidade de ponderações surge um campo de debate, de aprimoramento, de inovação”, afirma.

Como participar

Qualquer profissional comprometido com o campo da proteção da infância e da adolescência pode participar do AcolhimentoemRede, bastando, para isso, inscrever-se em https://groups.google.com/forum/#!forum/acolhimentoemrede ou escrever para acolhimentoemrede@gmail.com. A rede conta, ainda, com um canal no Facebook para a difusão das discussões, que pode ser acessado em https://www.facebook.com/acoemrede.

O AcolhimentoemRede é apoiado pelo Instituto Fazendo História, que fornece suporte tecnológico para permitir que as pessoas envolvidas com o acolhimento de crianças e adolescentes se beneficiem de um espaço virtual para a troca de conhecimentos. “A nosso ver, essa distribuição de poder dá aos participantes da rede um genuíno espaço de construção coletiva e uma oportunidade de exercitar e aprender a importância de um espaço em rede de participação social”, afirma Vidiz.

Bernardo Vianna / VIA Blog

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