Bibliotecas vão além do acesso ao livro

* Publicado originalmente no Blog Educação no dia 23 de abril de 2014. Imagem: Wikimedia Commons.

Em frente à Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em Belo Horizonte, as estátuas de Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Peregrino batem papo. O encontro imaginário dos escritores, representado pela escultura na entrada do prédio desenhado por Oscar Niemeyer, parece aludir àquilo em que o conceito de biblioteca vem se transformando.

“As bibliotecas não podem se limitar à sua tradicional função de empréstimo de livros”, observa Marina Nogueira, diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais. Além de manterem-se como referências em conteúdos de qualidade, o encontro, a promoção da cultura e a inclusão dos diversos públicos, segundo a diretora, fazem parte do papel desempenhado pelas bibliotecas. Um papel, de acordo com Nogueira, crucial para o desenvolvimento não só da leitura como da cidadania.

“É nesse espaço que as pessoas podem simultaneamente socializar, participar de atividades culturais, conhecer a literatura do Brasil e do mundo, se informar e expandir seus conhecimentos. Ela [a biblioteca] proporciona à comunidade um espaço de discussão sobre as questões que são de seu interesse, aliando sua atuação às novas tecnologias, contribuindo assim para o desenvolvimento social e para a construção da cidadania”, afirma Nogueira.

Segundo dados de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, as bibliotecas públicas são o equipamento cultural mais presente no país, encontradas em 97% dos municípios brasileiros. Ao todo, segundo o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – SNBP, são mais de seis mil bibliotecas, distribuídas da seguinte forma, de acordo com os dados de março de 2014: 512 na Região Norte, 1.845 no Nordeste, 499 no Centro-Oeste, 1.932 no Sudeste e 1.272 na Região Sul.

Para Waltemir Jango Belli Nalles, diretor da Divisão de Bibliotecas do Centro Cultural São Paulo – CCSP, a biblioteca pública sempre foi e deverá continuar a ser o espaço privilegiado de democratização da leitura, mas deve ir além. “A biblioteca tem que ser efetivamente viva, não apenas um depósito de livros passivamente a espera de leitores, mas que busque e ofereça atividades que atendam à sua comunidade e propiciem o amplo acesso à leitura”, diz Nalles.

Inauguradas há 32 anos, as bibliotecas do CCSP funcionam, segundo seu diretor, nos moldes do que se convencionou chamar bibliotecas parque, pois não só proporcionam espaço de acesso ao livro e à leitura como interagem com outras formas de expressão como o teatro, o cinema e as artes visuais. “Essa interação propicia a promoção da leitura e objetiva também, a meu ver, a participação cultural do cidadão de maneira mais ampla e abrangente. Some-se a isso a oferta de espaços físicos agradáveis, lúdicos e criativos, que o leitor usufrui individualmente ou em grupo, tornando a biblioteca um espaço de convivência, conhecimento, aprendizagem e socialização”, avalia.

De acordo com a última edição do estudo Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2012 pelo Instituto Pró-Livro, não mais do que 8% da população cultiva o hábito de frequentar bibliotecas, enquanto 75% jamais entraram em um desses espaços. Trata-se de um desafio que, de acordo com Nalles, passa pela capacidade da biblioteca de conhecer o seu público, a comunidade em seu em torno, e ser atraente para ele.

“Atraente é aquilo que é de interesse da comunidade ou do público alvo da biblioteca. Antes de tudo, ela tem que conhecer quem é esse público, quais são seus interesses, quais são as manifestações culturais do seu em torno, quais são as outras instituições próximas com quem deve dialogar. A biblioteca pública tem que atuar para além de seu prédio. Somente dessa maneira ela poderá ser uma referência cultural em sua área e, naturalmente, será mais frequentada e atuante nos objetivos que lhe competem”, afirma o diretor.

Em Minas Gerais, o Sistema Estadual de Bibliotecas, segundo explica sua diretora, colhe informações das mais de 800 bibliotecas públicas municipais do interior do estado para avaliar e elaborar políticas públicas. “A partir daí, realizamos um trabalho de assessoria técnica que compreende a doação de livros e publicações, o treinamento das equipes, orientações sobre ações de incentivo e mediação de leitura e muitas outras ações”, explica Nogueira.

A instituição também prepara exposições literárias itinerantes que são emprestadas às bibliotecas públicas municipais, além de auxiliar a realização de rodas de leitura, contação de histórias, orientação de empréstimos de livros e outras atividades relacionadas ao tema trabalhado na mostra. “Realizamos também encontros para a troca de experiências e para sensibilizar agentes sociais sobre a importância das bibliotecas e da leitura. Descentralizar a cultura e a leitura é um objetivo da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais”, afirma a diretora.

Bernardo Vianna / Blog Acesso

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